O {Criar, Cura?} é coletivo que realiza projetos com intervenções interdisciplinares com a populações vulneráveis na comunidade do entorno do Espaço Comum Luiz Estrela, construídas em conjunto com mulheres em situação de rua e mães de adolescentes em situação de internação psiquiátrica. Sustentando-se sobre os eixos: convivência comunitária, acolhimento e enlaçamento social, promove oficinas educativas e culturais, além de atividades de formação. É um dispositivo de escuta aberta e cuidado livre de grupos historicamente marginalizados, principalmente mulheres.
CRIAR, CURA?
Núcleo ECLE
Apresentação
Chega junto: Estamos no Espaço Comum Luiz Estrela todas as terças-feiras, de 15 às 19h.
Fale com o núcleo
Criar cura? O que te cura? Quem cura quem?
Tal interrogação sublinha-nos o questionamento dos padrões de normalidade produzidos social e historicamente.
Para ressignificar a história do horror do casarão que abrigou a tortura da loucura no passado e ir ao encontro ao desejado respeito à loucura no presente, o Espaço Comum, que resgata a história e luta em homenagem à Luiz Estrela, passou a ter ações orientadas pelo movimento de luta antimanicomial, desde sua ocupação, em 2013. Esta luta permeou várias frentes de trabalho: teatro, audiovisual, permacultura, música, restauro, memória, arqueologia, jurídico.
O {Criar, Cura?} desdobra-se destas atividades da loucura como lugar de criação, liberdade e resistência. Pretendemos a delicadeza do tempo presente para que não mais aconteça, para que não mais se esqueça, para que reinventemos outras histórias.
Somos todas protagonistas e construtoras deste projeto: profissionais de psicologia e redução de danos, poetas e artivistas em uma cidade onde fazemos caber a diferença no cotidiano da ordinária convivência. Somos aquelas que sublinham as singularidades no Comum. Somos corpo presente em resistência a uma cidade manicomial.
~ Equipe Criar Cura
A Passagem: de Núcleo Antimanicomial a {Criar, Cura?}
Em julho de 2017 o Núcleo Antimanicomial somou-se à Cozinha Comum para desenvolver um projeto de intervenção contínua, o {Criar, Cura?}. Da Cozinha Comum viria o fazer, o cheirar, o sentir do ato de cozinhar coletivamente. Do Núcleo Antimanicomial, viria a experiência da escuta sobre a diferença no conviver. Uma aproximação entre frentes estelares visando fortalecer-se através da interdisciplinaridade.
Diante da perspectiva do casarão, com sua história manicomial, abrir as portas recebendo a luz da apropriação do espaço público da cidade, assim como cientes de nossos limites sobre cuidar da loucura e da rua com ética diante os conflitos que operam sobre a diferença, o {Criar, cura?} é gestado, ocupando a Cozinha Comum para desenvolver suas atividades. Silvia Herval propunha experiências culinárias, e um grupo de estudantes de Psicologia da Universidade FUMEC participavam das oficinas do projeto naCozinha Comum e no CEPAI.
Em abril de 2019, o projeto começou a se reorganizar para desenvolver o aprofundamento e ampliação de suas atividades, do público atendido e refinamento de suas bases teóricas.
{Criar, cura?}: Uma experiência clínica livre e comum
A interrogação – Criar, cura? – que parece confundir a leitura parte das reflexões de um de nossos companheiros que também constrói o Espaço Comum Luiz Estrela: se criamos, criar é bom; mas será que a criação cura alguém? Por que curar? Existe cura? Quem cura quem? Quem cura o quê? Como vivemos o comum?
Ressignificando o passado, o projeto parte da loucura como lugar de criação e resistência. Sustentando-se na convivência comunitária, o acolhimento e o enlaçamento social, constrói de forma horizontal e colaborativa oficinas de arte e atividades educativas junto à populações frequentadoras do Espaço Comum Luiz Estrela e seu entorno, principalmente mulheres. Recolhemos testemunhos das vozes invisíveis na cidade pela escuta e pela escrita cartográfica afetiva.
Atualmente, o projeto atende mães de adolescentes em situação de sofrimento mental, mulheres em trajetória de rua e em experiência de sofrimento mental e drogadição.
Experimentamos novas metodologias de acesso e encontro com estas mulheres, diferentemente dos contatos institucionalizados oferecidos pelo Estado, que encontra grande dificuldade de conexão pela via formal e burocrática. Buscamos estimular o empoderamento destas mulheres através de informações e cuidado com a saúde além de perspectivas de geração criativa de renda. As narrativas produzidas durante as atividades por estas mulheres carregam a importância da formação de vínculo com a vizinhança e o território ocupado pelo Espaço Comum Luiz Estrela, devendo a produção cultural popular de vozes tradicionalmente marginalizadas ser preocupação dos serviços públicos culturais, educativos e de saúde de uma sociedade que preze pelo bem viver e o bem comum.